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Ar Fresco

terça-feira, janeiro 31, 2006

Àgora (XII) - o fenómeno Alegre

Ao contrário do que por aí se escreve, Alegre nunca esteve contra os partidos; antes preferiu pôr a tónica na cidadania, no refrescar de valores e conceitos esquecidos como Pátria, Nação e Língua. Agora se o conseguiu...

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Confesso que no último momento de voto, hesitei entre Soares e Alegre. Declarei o meu apoio pré-debates a Alegre e, mesmo após os desastrosos debates, continuei a acreditar no seu perfil para Presidente.

Nunca me deixei iludir. Alegre nunca esteve contra os partidos ou contra os aparelhos partidários, apenas teve de fazer uma campanha sem eles. Acredito que, por vezes, com obstáculos vindos do PS. Mas Alegre nunca pretendeu ser uma virgem impoluta do aparelhismo partidário, do parlamentarismo. Assumiu-se sempre como socialista e político profissional dentro de um partido.

Se houve alguma coisa que se pretendia provar, era a de que era possível lutar numas eleições, sem recorrer aos caciques locais (vide Soares em Gondomar, com Valentim Loureiro, e Cavaco na Madeira, com Alberto João Jardim). Confesso que a candidatura "alegriana" foi pobre em ideias, pobre ou nula. Acontece que para o cargo de presidente, nos moldes actuais, não era pertinente apresentar projectos políticos consistentes. Afinal de contas que ideias trouxeram Cavaco ou Soares?

Sempre admiti que o que estava em causa era o perfil dos candidatos, e, Alegre, para mim, era o que tinha o perfil que junto com o Governo poderia levar ao equilíbrio conceptual. De Sócrates, o rigor, a disciplina e o método; de Alegre a defesa da Língua, da Portugalidade e da Pátria, sem descurar da atenção perante a acção governativa do PS.

Posto isto, o movimento de Alegre só faz sentido, ou melhor, só fez sentido enquanto candidatura presidencial. Tudo o mais seria absurdo. Todos sabemos que o eleitorado que votou em Alegre é maioritariamente socialista e do centrão, não há aí lugar para mais partidos, nem sequer vejo nele o perfil de líder de um partido ou Governo. A candidatura de Alegre serviu apenas para trazer, de novo, os conceitos acima enunciados e nada mais. Com a sua derrota, deverá acabar o movimento. E obviamente o apoio deste blogger!

Àgora (XI) - pós-presidenciais

Ao contrário do que seria previsível, a luta interina não surgiu no PS, como se esperaria, nem na esquerda. É no PSD que começam as primeiras movimentações rumo à desestabilização

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Apesar de considerar que a actividade governativa do Governo tem sido globalmente boa (vide os últimos anúncios de investimento estrangeiro; a potencial desburocratização do Estado; e as tentativas tímidas de começar a reformar o país, mesmo à custa de medidas impopulares e à custa de eleições intermédias), considero que é urgente haver uma oposição forte, esclarecida e activa.

O PS, pese embora seja o grande derrotado das eleições presidenciais, soube arrepiar caminho e não ficar a velar o resultado: avançou rapidamente com mais medidas e decisões estratégicas.

O PSD e o CDS viram um candidato eleito, mas deparam-se com problemas de identidade internos: as suas lideranças são fracas e sem ideias (vejam-se os últimos grandes debates no Parlamento).

O Bloco de Esquerda continua, apesar de grande derrotado, a imaginar que os portugueses ainda acreditam neles. A derrota foi essencialmente pessoal. Sendo Louçã o rosto mais emblemático do BE, o partido acaba por ir também na enxurrada.

O PCP mesmo "perdendo", acaba por sair destas eleições com confiança. Confiança num líder afastado da rigidez do Comité Central (afastado, mas não tanto, pois pese embora a simpatia e a empatia, a famosa cassete continua bem viva), e que consegue chegar realmente às pessoas.

O fenómeno Alegre fica para o próximo post.

sexta-feira, janeiro 27, 2006

Mercado de inverno...

O Ar Fresco não pára de crescer. Depois da entrada de Xina e do "Les Pusses des Bôtes" ainda calminhos, no que respeita à escrita, surgem duas novas contratações e há a possibilidade forte de haver mais uma:

- O Paulo promete trazer a sua visão luso-anglo-saxónica (está sedeado em Leicester);

- A Vitória já participou e para além de Economia, Finanças e afins, vem dar um toque feminino ao blogue;

- Finalmente, há negociações com uma futura participante da Catalunha, embora portuguesa: música e cinema são o seu forte, mas haverá certamente mais...

Brevemente, num blogue perto de si!

segunda-feira, janeiro 23, 2006

Maus momentos da noite eleitoral

Como em todas as actividades, há dias em que as coisas não nos correm pelo melhor. De seguida, pequenos apontamentos de coisas que não correram bem quer para os políticos, quer para os media:

o discurso de Louçã: constatação da derrota, por um lado, discurso positivo surreal, por outro, aquela do "dia do nascimento de uma nova esquerda", só os bloquistas perceberam...
– a sofreguidão de Sócrates: em retirar tempo de antena a Alegre;
– o discurso das contas mirabolantes de Garcia Pereira;

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– a constante "opinião" de Manuela Moura Guedes; aliás a dupla da TVI esteve muito mal, culminando com a sondagem (sobre intenção de voto em hipotéticas legislativas) da TVI que era à boca das urnas e telefónica, simultaneamente... (salvaram-se como sempre Constança Cunha e Sá e M. Sousa Tavares)
– as constantes filmagens da casa de Cavaco: foram apontamentos sem interesse e a roçar a conversa de comadres; política vs reality show, paparazzianismo;
– a desprepositada perseguição ao carro de Cavaco (ou ao vencedor) já é um must de vazio jornalístico;
– o corte a Alegre, priorizando o discurso de Sócrates; não se percebeu qual a prioridade dos media: o candidato em 2.º lugar ou o Primeiro-Ministro e secretário-geral do PS.

Aguardo contribuições... em comentário ou para o e-mail lá de cima...

sexta-feira, janeiro 20, 2006

Ética em campanha... (2)

O modo como os comentadores assinalam coisas do género "Fulano faz uma campanha notável." Na verdade, a ideia de "campanha notável" significa muito mais encenação do que propostas exequíveis e aceitáveis, mais ruído do que substância, mais poeira do que outra coisa. Fazer uma "campanha eleitoral notável" significa aparecer mais na televisão, transportar capitais de simpatia ou de magnetismo pessoal - características que emprestam brilho a um herói das multidões, mas que acrescentam e multiplicam desilusão depois das eleições.

segunda-feira, janeiro 16, 2006

Ética em campanha...

No discurso de todos os candidatos presidenciais tem estado ausente a palavra "sacrifício". Todos se têm apresentado como aqueles que vêm para ajudar, motivar, dialogar com tudo e com todos para tirar o país da situação em que está. Serão assim tão bons os tempos que aí vêm?

Já as legislativas haviam ficado marcadas pela falta de frontalidade dos candidatos: Santana apregoava a retoma e Sócrates propunha empregos, planos tecnológicos e afins. Na verdade, todos nós sabíamos que Sócrates após a vitória iria aumentar os impostos, iria ter de tomar medidas difíceis que iriam fazer congelar os aumentos, que o desemprego iria inevitavelmente aumentar, fruto da conjuntura económica. Mas foram os portugueses verdadeiramente enganados como se diz por aí? Votaram num Governo de esquerda e saiu-lhes um de direita?

A questão é a seguinte: até que ponto é possível mentir numa campanha eleitoral? Até que ponto o candidato consegue discernir que embora dizendo X, os eleitores sabem que ele terá primeiro de fazer Y. E até que ponto os eleitores são verdadeiramente enganados pela campanha Z?

O que teria acontecido ao PS se Sócrates durante a campanha tivesse dito que o desemprego iria aumentar, que não haveria grandes aumentos, que gastaríamos milhões, biliões em obras públicas. Teriam votado nele? E poderemos chamar de mentira, ou o so-called "populismo", às promessas de campanha? Seremos todos assim tão ingénuos?

Última questão: teremos medo da verdade? Só pode. Pois quer candidatos, quer eleitores sabem os tempos que atravessamos, a conjuntura existente e continuamos todos a assobiar para o lado e a brincar às promessas eleitorais... Se há alguém que tem sido enganado é a classe política que por estas e por outras vê, a cada dia que passa, a sua imagem cada vez mais negra!

sexta-feira, janeiro 06, 2006

Em 2005... (balanço possível)

... a personalidade mais elogiada foi Sócrates. De facto, o Governo foi a figura deste ano que passou. Após uma vitória esperada sobre um Santana já combalido de todos os combates anteriores, incluindo o com Sampaio, o Governo não teve as tréguas de que necessitava para a imposição da sua agenda.

Não teve tréguas por duas razões: ora porque cometeu erros, ora porque as medidas apesar de boas eram impopulares. Por outro lado, as medidas nunca foram bem explicadas aos portugueses. O Governo tem um défice de comunicação, que se observa muitas vezes numa imposição, quase arrogante, das decisões do executivo.

No ano de 2005 assistiu-se a uma mudança no conceito de eleições e campanhas (uma questão de marketing político). Passou-se da já ultrapassada "discussão de ideias" para o conceito de falar o mínimo possível, para evitar erros. Aconteceu com Sócrates e acontece agora com Cavaco e os resultados irão comprovar ambas as vitórias. Também, nos dois casos, partiram ambos com larga vantagem para os momentos eleitorais.

Foi também o ano dos candidatos "independentes", em rotura com os partidos de origem. Alegre não pode ser incluído nesse pacote, mas é também em rotura com o seu partido que avança. Nas autárquicas, comprovou-se a tese de que "desde que o meu autarca faça a minha terra avançar e a mediatize" não interessa o seu currículo criminal, mesmo que tal se refira a abuso de poder ou usurpação de bens da comunidade. O populismo venceu em quase todos estes concelhos.

O ano que passou ficará também marcado pelo ano em que a Esquerda liquidou as aspirações de eleger um presidente. Se a estratégia de dividir para conseguir franjas diferentes do eleitorado parecia inteligente, os constantes ataques pessoais e inter-candidaturas tem descredibilizado as candidaturas e desmotivado o eleitorado, vem aí certamente a abstenção.

(continua)